Cidade do interior de MT paga salário de R$ 30 mil para segurar médico.
"Hoje temos a médica, mas deu trabalho. Pago R$ 30 mil para ficar. Se
não for [esse salário], não vem médico. E esse valor mata o município",
explica Lourivan Santos, secretário municipal de Saúde.
Mesmo após os descontos, o salário de Khariny, que faz jornada de 40
horas semanais e sobreaviso, é mais que o dobro dos R$ 10 mil líquidos
anunciados pelo Ministério da Saúde para o programa Mais Médicos para
fixar médicos brasileiros e estrangeiros no interior do país.
O ministro Alexandre Padilha (Saúde) tem dito que a prioridade será
preencher as cerca de 10 mil vagas com os profissionais brasileiros.
Porém, a realidade de municípios do interior ou da periferia das grandes
cidades mostra que, com salários iguais ou superiores à bolsa, não é
tarefa fácil fixar o médico.
Os motivos relatados por gestores variam: falta de estrutura da cidade,
distância da capital e salários mais atrativos nos grandes centros.
O Conselho Federal de Medicina diz que é preciso estruturar carreiras para médicos.
ESTRANGEIROS
"Estou colada em Belo Horizonte, tenho duas UPAs [Unidade de Pronto
Atendimento], ambulância, laboratório muito bom e um centro com
especialidades médicas. E ainda tenho dificuldade", diz Kátia Barbosa,
secretária de Saúde de Santa Luzia (MG).
Desde janeiro, ela tenta preencher 21 vagas de médico, com R$ 12 mil
líquidos. Ela não descarta estrangeiros e questiona o interesse de
brasileiros na bolsa de R$ 10 mil.
Maria Neuman Azevedo, secretária de Saúde de José da Penha (RN), a cerca
de 400 km de Natal, concorda que a bolsa dificilmente atrairá o médico
nacional. "Se for estrangeiro, fixa, o brasileiro não fixa, não." A
secretária, que oferece R$ 9.000 líquidos, tem duas vagas abertas.
Para José Fortunati, presidente da Frente Nacional de Prefeitos, haverá
interesse dos brasileiros. Ele diz que, além da bolsa, os médicos terão
moradia e alimentação custeados pelos municípios.
Procurado, o Ministério da Saúde não se pronunciou.